Sentado numa lanchonete da
cidade, comendo um bom salgado e deliciando-me com um mate chocolate,
conversando com @s funcionári@s que são bem simpátic@s, aparece uma mulher,
aparentando seus cinqüenta anos de idade, extremamente empolgada com uma
estória que viveu nesse final de semana.
O ambiente, até a chegada desta
mulher, estava calmo, descontraído e tod@s prestavam atenção nos desenhos
animados que ali passava e teciam pequenos comentários sobre a vida ou o
desenho.
Assim que chegou a mulher de cinqüenta anos comentou, muito empolgada, sobre uma festa que participou neste
final de semana. Trata-se dessas festas onde as pessoas concentram-se em ruas,
estacionamentos, logradouros, avenidas, estacionam os seus carros e motos,
aumentam ao máximo possível o volume do som dos carros e criam uma disputa,
onde o carro mais equipado e com o maior volume musical representa status,
poder e fama para aquela situação.
A mulher de cinqüenta anos disse
que estava bebendo à tarde inteira, quando inesperadamente sua nora ausenta-se
por alguns minutos e comunica aos que ali ficaram:
- Vou até ali e já volto, se
alguma coisa acontecer, por favor, proteja minha sogra.
A mulher de cinqüenta anos ouviu
aquilo e sentindo-se coagida e receosa pelo comentário resolveu perguntar o
que poderia acontecer naquela festa, visto que tinha uma quantidade enorme de
crianças, adolescentes e outros adultos. As pessoas que estavam a sua volta
disseram que a polícia costuma dispersar as pessoas com bombas e balas de
borracha, para que a paz e ordem social sejam mantidas.
Inesperadamente, a mulher de
cinqüenta anos ouve alguns estouros e percebe que uma multidão corre,
desesperadamente, para diversos lados. Enquanto a mulher de cinqüenta anos
narrava à estória na lanchonete, contava com muita ênfase e se divertia da
situação na qual viveu. Narrava com muitos detalhes sobre suas experiências com
a violência policial na contenção do barulho em vias públicas, dizendo também,
que ao correr o policial apontava uma arma, pela sua descrição uma de calibre 12, e enquanto corria tinha
muito medo em levar tiros nas costas.
Apesar de toda situação, disse que gostou e até se divertiu com a situação.
Gostaria de registrar duas
observações que faço sobre esta conversa que, obrigatoriamente, ouvi esta
manha. A primeira pela situação quando as pessoas transformam o trágico e a
situação de violência em algo cômico e engraçado, naturalizando a situação. A
segunda pela condição de miséria ser tão extensa e acompanhar muitas pessoas,
por longo tempo, faz com que se divirtam por pouco e com péssima qualidade.
A partir da condição de
miserável, com pouca possibilidade ao entretenimento (cinemas, parques,
estudos, lazer, esportes, etc) o sujeito recria o espaço público para terem o
mínimo de diversão, já que o Estado não cumpre com o seu papel, tendo como
funcionamento para a vida: luz, água, saneamento básico e a circulação de viaturas
que reprimem seus cidadãos em situações como esta.