segunda-feira, 16 de abril de 2012


Sentado numa lanchonete da cidade, comendo um bom salgado e deliciando-me com um mate chocolate, conversando com @s funcionári@s que são bem simpátic@s, aparece uma mulher, aparentando seus cinqüenta anos de idade, extremamente empolgada com uma estória que viveu nesse final de semana.

O ambiente, até a chegada desta mulher, estava calmo, descontraído e tod@s prestavam atenção nos desenhos animados que ali passava e teciam pequenos comentários sobre a vida ou o desenho.

Assim que chegou a mulher de cinqüenta anos comentou, muito empolgada, sobre uma festa que participou neste final de semana. Trata-se dessas festas onde as pessoas concentram-se em ruas, estacionamentos, logradouros, avenidas, estacionam os seus carros e motos, aumentam ao máximo possível o volume do som dos carros e criam uma disputa, onde o carro mais equipado e com o maior volume musical representa status, poder e fama para aquela situação.



A mulher de cinqüenta anos disse que estava bebendo à tarde inteira, quando inesperadamente sua nora ausenta-se por alguns minutos e comunica aos que ali ficaram:

- Vou até ali e já volto, se alguma coisa acontecer, por favor, proteja minha sogra.

A mulher de cinqüenta anos ouviu aquilo e sentindo-se coagida e receosa pelo comentário resolveu perguntar o que poderia acontecer naquela festa, visto que tinha uma quantidade enorme de crianças, adolescentes e outros adultos. As pessoas que estavam a sua volta disseram que a polícia costuma dispersar as pessoas com bombas e balas de borracha, para que a paz e ordem social sejam mantidas.

Inesperadamente, a mulher de cinqüenta anos ouve alguns estouros e percebe que uma multidão corre, desesperadamente, para diversos lados. Enquanto a mulher de cinqüenta anos narrava à estória na lanchonete, contava com muita ênfase e se divertia da situação na qual viveu. Narrava com muitos detalhes sobre suas experiências com a violência policial na contenção do barulho em vias públicas, dizendo também, que ao correr o policial apontava uma arma, pela sua descrição uma de calibre 12, e enquanto corria tinha muito medo em levar tiros nas costas. Apesar de toda situação, disse que gostou e até se divertiu com a situação.

Gostaria de registrar duas observações que faço sobre esta conversa que, obrigatoriamente, ouvi esta manha. A primeira pela situação quando as pessoas transformam o trágico e a situação de violência em algo cômico e engraçado, naturalizando a situação. A segunda pela condição de miséria ser tão extensa e acompanhar muitas pessoas, por longo tempo, faz com que se divirtam por pouco e com péssima qualidade.

A partir da condição de miserável, com pouca possibilidade ao entretenimento (cinemas, parques, estudos, lazer, esportes, etc) o sujeito recria o espaço público para terem o mínimo de diversão, já que o Estado não cumpre com o seu papel, tendo como funcionamento para a vida: luz, água, saneamento básico e a circulação de viaturas que reprimem seus cidadãos em situações como esta.


domingo, 15 de abril de 2012

Esta manhã, enquanto conversava com uma amiga dos tempos de colégio, refletíamos sobre o início dos nossos temas de pesquisa. Ela, Mariana, faz Geografia e eu mestrando em Enfermagem.

Atualmente ela tenta compreender, através dos quadrinhos e HQ's "A dialética da metrópole em Will Eisner na cidade de Nova York". Tema este muito diferente do que se vêm produzindo, sobretudo, numa Universidade conversadora e castradora dos ideais mais criativos.

Meus estudos são sobre a reconstrução da identidade da população em situação de rua na cidade de São Paulo a partir do uso, abuso e dependência de álcool e outras drogas. 

Não quero me desgastar a comentar sobre os problemas e retrocessos da Universidade, mas da importância que o tema inicial de uma pesquisa tem para a formação do pesquisador.
Este momento é muito importante por nos fazer pensar sobre as inquietações que passam pela nossa imaginação. Quando olhamos para o fenômeno a ser estudado lançamos, inicialmente, diversas interpretações e nos debruçamos sobre os livros, filmes, quadrinhos, artigos e na interpretação do campo para tentar compreender como o fenômeno ocorre e atestamos, vagarosamente, nossas hipóteses para começar a rabiscar algumas ideias.
 

Escrever/digitar os insights é o momento mais livre que temos para pensar o que nos mobilizou a fazer a pesquisa, porque estamos completamente puros dos conceitos, pré-conceitos e noções detalhadas sobre o fenômeno. Nessa primeira parte da pesquisa somos livres por rabiscarmos o que acreditamos ser o fenômeno, como pretendemos compreendê-lo, quais serão as referências a serem utilizadas nos referenciais, enfim, uma gama de estratégias que ao final da elaboração do pré-projeto estamos contentes e ansiosos para a consolidação da pesquisa.

Assim, estabelecer o que queremos estudar nos dá uma sensação muito boa de busca pela autonomia, desejo e vontade de ler e fichar o material a ser utilizado, fazendo com que o pesquisador, no início, sinta-se pertencente ao mundo em que vive. Assim como a aranha que tece sua teia, o pesquisador tece os caminhos (metodologia) e conceitos sobre o fenômeno.